terça-feira, 21 de agosto de 2007

Império do tempo


Há música no tempo. Há um momento correndo, corrido, em busca do sentimento perdido. Há a aventura e desventura de uma vida, que por mais que se queira, não é possível conceber em sua totalidade. Há um mundo engendrado por seres, mitos e sonhos. A era emocional de um planeta, que gira em torno de uma lua, semi-nua, cultivando, sem se aperceber, as flores do jardim do próximo alvorecer. Há uma torrencial chuva, que muda, o futuro de todo, o passado de tudo e o presente em nada. A chuva efêmera passa, agride a sutileza e transforma-se em tempestade. Pássaros instantâneos nascem, brotam de um rude silêncio, de um ou mais eventos e , então, imprimem às asas do temporal, uma velocidade infinitesimal, distâncias infindas em minutos finitos. É como se nada soubessem, das vãs e tristes madrugadas, com a alma pairando sobre edifícios, sorrindo, correndo os momentos sortidos , vagando na palma das mãos, nos ossos, nas frontes, nas lágrimas que o semblante esconde, entre voláteis olhares e pertinentes sussurros. Antes e depois, há o medo do escuro, a enxurrada de afagos, o fluído da atmosfera, no espaço, aparecendo e abraçando a pele drenada, dentro da casa, que voa, que salta, transmuta-se em gotas tenazes, incapazes de vencer as barreiras aeróbicas, as dores dos pormenores, os vestígios de fortuna e sorte, as resmas das páginas a serem escritas nos ventos.

Texto de Marcos André Carvalho Lins
Imagem Osvaldo Barreto

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