quarta-feira, 8 de outubro de 2008
MINHA AVÓ-MARIA DA GLÓRIA LEITE CARVALHO
Minha Avó,
Maria da Glória Leite Carvalho
Minha avó nasceu como quem nasce à janela, veio para viver, na esperança de viver plenamente. E conseguiu. Com quase um século de vida, minha avó é daquelas pessoas que nunca se perderam em algum lugar do passado, embora não concorde com muitos aspectos do presente, vive-o como uma dádiva, como presente que é. Resmunga aqui e ali, reclama acolá, mas não deixa de ter em mente que Deus não está ausente, pois faz parte do passado, do futuro e também do presente.
Observa o mundo sempre da sua janela que um dia foi em Goiana, depois mudou para Apipucos, e hoje estacionou em Piedade. Quem sabe para sempre? O futuro a Deus pertence, diria ela. O fato de olhar pela janela traz, na sua beleza de contemplação do mundo, um resíduo qualquer dos idos de 1910, 1920,1930 quando aconteceu sua infância. Trata-se de um olhar brejeiro, de quem vê tudo quase como por inteiro, não tendo nada que se esconda da sua vista: atenta, precisa e, porque não dizer, graciosa. É uma visão do mundo que passa e que passou em eternos ciclos de alegria e tristeza se intercalando no tempo, residindo no tempo e fazendo do tempo a perfeição dos seus dias.
Se minha avó se perdeu de sua janela em algum momento, por um instante que seja, foi por amar demais o próximo, por amar a vida em demasia, e saber (lindamente!) que à janela do outro também é uma porta, para um mundo que ela ainda não conhecia.
Recife, em 17 de maio de 2007
Marcos André Carvalho Lins
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