sábado, 24 de janeiro de 2009

A fonte (Infância, Interfaces, Tiro no escuro)

Photo Credit: Osvaldo Barreto
Infância

Sei das abelhas,
Pedaços de vida
O dia castanho
Doces conselhos

Sei das cartas
Vida em papel
Lapso de tempo
Lendo-as devagar

Sei da cantiga
Que criou-me a ninar
Nos olhos : o sono
No sono: passarinhos

E o entardecer era apenas o céu maduro despencando
sobre nossas cabeças...

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Interfaces

Pessoas,
Símbolos,
Faces,

A vida estabelece as interfaces,
Do chão , poeira
Nos ouvidos, zoeira
Nos olhos, vivências límpidas
E no coração, os sonhos silenciosos

(...comungam da mesma dor aqueles que transcendem
o patamar estático da viv´alma... )

No jardim onde brotaram contos de fadas,
Hoje descansam perdidas azaléias e mágoas...

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Tiro no escuro

Há na mesa um silêncio,
Três choram, três se ignoram
Triste trilogia da decepção,

(sobre a mesa, um corpo teso, frio, cinzento)

Morreu porque tinha como sina,
Como vocação, como sorte ou azar,
Não correr de ladrão

Era guarda-noturno
O outro, um gatuno
De arma em punho

Podia chamar-se Severino,
Uma esposa,
Um menino,
Um bom coração

Quis a vida levá-lo, do mundo era escravo
(o muro mais alto)
Coral abstrato
Primeira voz da milícia...

Medo não tivera, quando a noite enfim se desfaz
A poesia de uma vida é o que fica pra trás...



Marcos André Carvalho Lins 

é bacharel em Direito formado na Universidade Federal de Pernambuco e ocupa o cargo de Técnico Judiciário Federal no TRT -6a Região (Pernambuco), sendo também escritor diletante.

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