terça-feira, 3 de abril de 2012

Danniel Boone:

Para aqueles que acham que produção de espetáculos é apenas facilidades para entrar e sair de um palco, Danniel nos mostrou o outro lado. Primeiro tem de haver uma tendência natural. Fundado recentemente na faculdade Estácio de Sá ( RJ ), o curso de graduação em produção cultural (gestão, organização e promoção de eventos) busca a absorção de pessoal, graduado nessa área, pelo mercado, contando como principal obstáculo justamente a ausência de uma vocação em alguns recém-graduados. “ além de gostar do que faz, tem que ter o molejo próprio da área, tem que saber lidar de imediato com os problemas quando eles aparecem, no decorrer de uma turnê , por exemplo.” Argumenta ele. Danniel , que não teve formação especializada alguma, adentrou o terreno pelo próprio impulso familiar, mais exatamente através do tio que lhe passou o ofício e com o qual trabalhou durante algum tempo. Com 12 anos no mesmo batente, Danniel diz gostar muito do que faz e não deseja abandonar o campo de produção tão cedo. Entretanto, ele reconhece que a profissão abre um leque enorme de possibilidades.

Conseguimos arrancar dele algumas curiosidades desse segmento tão cercado por mitos e lendas que é o setor do show business. Ele nos relatou , por exemplo, que não é apenas ser músico e sair por aí tocando. Para exercer a profissão de músico, o cidadão tem de passar numa prova seletiva, paga, e, de acordo com o caso, se enquadrar numa das categorias: músico teórico ou músico prático. A primeira alcunha, que vem expressa na carteira da OMB, Ordem dos Músicos do Brasil, diz respeito àquele músico capacitado para ler partituras, enquanto os músicos práticos diferem por adestrarem instrumentos apenas de ouvido. Tanto um caso como o outro, porém, não são separados na vida profissional, a distinção é meramente introdutória no universo musical, não repercutindo na carreira do músico.

Há quem deixe de diferenciar o empresário do produtor. Trata-se de um engano comum, para Daniel, mas a realidade é bem outra. Enquanto o empresário ajusta apenas verbalmente ou no máximo utilizando-se de um padrão de contrato simplificado, a apresentação do artista em alguma data específica num determinado local, cabe ao produtor correr atrás dos detalhes que vão desde a parte mais burocrática até a viabilização de translado, refeição para toda equipe, hospedagem, etc.O empresário é quem aparece, mas o produtor é quem dá funcionalidade e articulação ao empreendimento artístico. Portanto, o empresário faz as vezes de anfitrião mas quem dar a festa é a equipe de produção. Não obstante, e não poderia ser de outra forma, o “dono dos contatos” é quem fica com a maior fatia do bolo, recebendo uma porcentagem sobre o valor do contrato. Um bom empresário (diferentemente do produtor) , segundo Danniel, pode lucrar até mais de cinqüenta mil reais por mês, podendo esse valor adquirir proporções mais vultosas quando se fala em vender shows para outros países, como a Europa, onde a cultura latina , em geral , é muito bem acolhida.

“E não pensem que tudo são flores, mesmo para os grandes nomes da MPB brasileira”, diz Danniel. Mesmo recebendo o pagamento geralmente antes de realizar o show, uma parte bem antes e a outra um pouco antes de subir ao palco, o cantor ou músico pode sofrer nas mãos de mal pagadores. Durante sua trajetória profissional ele já assistiu a muito dono de estabelecimento vender casa ou carro para honrar compromissos.(isso obviamente quando o cachê do artista não está atrelado ao resultado da bilheteria ). Para os artistas mais iniciantes ou com um público mais restrito, o que ocorre é um acerto entre contratante e contratado que nunca ultrapassa menos de um meio a meio em termos de bilheteria. “ cinquenta a cinquenta se faz show por amizade, o comum é setenta ou oitenta por cento da bilheteria para o artista.” Completa Danniel. E acrescenta: “o consumo em geral é da casa.”

Danniel também nos participou ter sido enganado num plano muito bem arquitetado por um suposto contratante. O homem , bem vestido e de boa aparência, chegou a receber a equipe de produção no hall do hotel Copacabana Palace , exigindo inclusive garantias. Depois de divulgado o show e vendida uma boa parte dos ingressos, o homem desapareceu no mundo. Resultado: o artista , teve de realizar uma via crucis explicando ao seu público exatamente o que ocorreu e declarando sua total boa fé no caso. Sabe-se que esse mesmo senhor é reincidente em falcatruas desse tipo, mas até hoje não se conhece o seu paradeiro. “ provavelmente continua se utilizando da mesma armação” , conclui Danniel.

Danniel Bonne Travassos de Freitas Pinto, é pernambucano, natural de Garanhuns, e no momento reside no Rio de Janeiro.

www.mpbproducoes.com.br

Texto de Marcos André Carvalho Lins

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