terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A ninhada, Rua, Loucura.(Osvaldo Barreto)


A ninhada

Poderia ter amado aquele cão que rodeia a mesa dos poetas,
ter dado migalhas que saiam da saliva doce do álcool,
festejar com sinceridade o gruído animalesco do infeliz
e não ter exigido que balançasse o rabo para não te parecer animal.

A ninhada sobrevive na angustia de ter te perdido.
Mais alimentada, mais confusa e mais infeliz...

A ninhada que tu rejeitasses nasceu morta.

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Rua

Foi em rua de barro que nasci,
em barro meus sonhos cresceram.
Na rua...

Na rua de asfalto foi onde a realidade me engoliu,
engoliu a de barro.

O piche tapou o chão,
o homem,
o grito.

O chão não respirou mais.

Piche quente matou amor.
Ardeu, derreteu, nasceram bolhas nos meus pés.
Suplício....

A rua de barro, agora de pus,
mordaça,
silêncio e
Sossego...

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Loucura

Loucura
cínica e
vagabunda
que me massacra,
me endoida,
Maldita!!

Bebe,
Grita,
Rasga,
Rir,
Engana,
Aniquila.
Insana!

Covarde,
Vadia,
Ingrata,
Dissimulada,
Vaguei,
Dissolve,
em mim...


Osvaldo Barreto

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Anteriores:

Ternura, Sinopse, O dia. (José Dagostim)
“Misteriosamente”, “Imprescindível Noite Do Ser”, “Ah! Esse Coração” (Brigitte Luiza)
Teu dolo, Poesia barata, Deus Grego (Oterrab Filo)
Miragem, Elementos, loucos e Loucos. (José Dagostim)
Lamúria
Ventania, Silêncio Raro, Disfarce (Brigitte Luiza)
Poemas de Brigitte (Acontece Que, Quantum Satis , Noite Fria)
Aurora, DA FARRA FILOSÓFICA, Travessia, RAIO XIS (Jesus)
Porta-bandeira, Suicídio empírico, Circunda
O silêncio, Gestos de busca, LUTO, ESTRELAS NUAS.
Ser humano, SER, APENAS AMAR, Beneditas
A fonte (Infância, Interfaces, Tiro no escuro)
Receita de ano novo
Feliz...
No princípio
Urbe
Valeu, Leandrão!!!
Saudades
Cosmo
Para ti
A rosa e o vento
Toda saudade que existe
Ser grande
Latifúndio
Caminhos
Sentido
Abraço
Sou em ti porque és em mim.
Cemitério Clandestino
CARTA ( PÓSTUMA ) À MINHA VÓ
MINHA AVÓ-MARIA DA GLÓRIA LEITE CARVALHO


Sereia (Oscar Rosas)

Reparem nesse bronze, veia a veia,
Cornucópia de seios e de escama,
Obra de um japonês, em que o Fusi-Iama
Adora o mar em enluarada areia.

Canta, e essa harmonia nos golpeia.
É duma triste e solitária gama,
Porém aumenta desse bronze a fama
O olhar amortecido da sereia.

Penso que sonha o pólo e o nevoeiro,
E a pálida talhada de um crescente
Num céu de véus de noiva e jasmineiro.

E, como búzio a referver, ressoa
Numa langue preguiça de serpente,
Num êxtase nostálgico de leoa.

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