Vejo um útero. Entrei lá só a passeio. Vejo por dentro. As paredes sangüíneas, vermelhas, frutosas. Até dá vontade de comê-las.
Me enrosco todo, me abraço de corpo em si, mastigo devagar o naco de sangue carnoso que me cabe. Parece repulsiva a idéia, mas é quentinho e gostoso. A repulsa deriva de uma construção simbólica mediada pela cultura. Só mesmo quem nunca experimentou pode condenar. A visita é compensadora.
Mesmo que se vá só a passeio, o interior de um útero é um lugar agradável. É como uma praça privada, na qual se pode andar sem roupa e o controle social inexiste. É mais, é como a vida selvagem, já que a convivência com o meio é direta.
Morar lá é uma idéia apetitosa.
Voltar, reencontrar algo sagrado: o sangue.
Alimentar-se apenas de suco vital. A melhor marca é a deixada na boca. O meio líquido é nutritivo.
A intenção é voltar a ser uno com o universo. Seguindo o preceito de relações micro-macro cósmicas, o UNIVERSÚTERO é uma posição privilegiada na geografia do indizível. A tentativa é cheia de sons de movimento celular, matéria cósmica condensada e pulsante, é atômica a revolução ininterrupta. Música que não se aprende se não se vive. O fluxo começa aí.
Texto de Felipe Obrer
Blog Lavoura de Palavralarva
Imagem Osvaldo Barreto
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